Tuesday, February 28, 2006

Comparações abusivas?

«The first time you sell a gun is like the first time you have sex. You have absolutely no idea what you are doing but is exciting and in one way or another is over away too fast»
[Yuri Orlov (Nicolas Cage), em Lord of War]

Saturday, February 25, 2006

Diversões municipais

Na falta de parques, espaços verdes, campos de jogos, etc., junto-me ao concelho municipal de Maputo na brincadeira dos circuitos. Para tornar a coisa mais séria, compramos miniaturas da cidade (não é importante que sejam muito precisas). Mas porque também nestas coisas não devemos deixar de lado uma certa filantropia, levo comigo alguns carros (emprestados!) do meu filho, o suficiente para que cada vereador tenha um ou dois. Debatemos novas rotas, trocamos os sentidos de várias ruas, proibimos a circulação noutras. Não esgotamos a paciência a discutir critérios. Sobra-nos tempo inventar buracos, fingir arranjos e simular qualquer reunião banal. O mais importante é fantasiar factos que pressuponham cortar o trânsito. O gozo está circular em ponto pequeno e vestir-se de personagens aflitas, surpreendidas com as novas regras e novos perigos. Alguém (talvez um funcionário condescendentemente aceite no grupo) faz de polícia, ávido de transgressões que lhe garantam mais uns trocos. E somos inocentemente felizes e orgulhosamente elitistas. Inventamos um plano de acção, damos-lhe um nome condizente com a nossa altivez: espelho(!) soa muito bem. Proibimos circulações estranhas, incómodas; charmosas apenas para excêntricos; e importantes para populistas lunáticos:


Também no mundo de fantasias, há pequenos problemas que surgem. Não nos demoramos em retóricas sobre soluções, cada um que avance como entender:

Por vezes também aparecem uns e outros mais complicados. Aqui já se exige maior aprumo. Impressionamo-nos com a eficácia do nosso discurso: repetitivo, evasivo, mas sempre convincente. E há problemas dificílimos de resolver. Estes não chegam sequer a nos incomodar, criativamente ficam fora do circuito. Sacrifícios adicionais não são permitidos. O importante é desordenar, criando uma ordem que só nós percebemos. Brincar é brincar...não nos peçam qualquer racionalidade...

Friday, February 24, 2006

Os três porquinhos

Não consigo livrar-me de um certo desconforto sempre que leio «os três porquinhos» (e faço-o vezes sem conta durante a semana). Incomoda-me a metáfora do sopro do lobo que leva a casa de palha pelos ares. Uma conversa amiga fez-me pensar que o tremor de terra que ocorreu em Moçambique podia ser uma boa negação de um certo etnocentrismo…

Thursday, February 23, 2006

Hipocondria, egocentrismo ou megalomania?

A terra a tremer e pensar que está a ter um ataque cardíaco.

Terapia: cálculo frio

«Fica calmo, cala-te e dorme! É um sismo. Deve andar à volta dos 6 graus, nada de grave. Não te esqueças que venho de uma ilha de origem vulcânica. Mas, já agora, vê lá se não nada debaixo da cama».

Sismo em Maputo

Pouco depois da meia-noite, a terra tremeu em Maputo. Confirma-se. Nada de grave (tanto quanto sei), mas o suficiente para desassossegar as pessoas. Muita gente na rua, sem pânico, mas com alguma apreensão. Alguns telefonemas com sugestões de segurança, cada uma mais excêntrica que outra. Não faltam trocas de confidências sobre o que se fazia na altura. Actos que ficarão na memória sobretudo por aquilo que a natureza lhes acrescenta. Quando amanhecer completa-se o balanço (se até lá, esperemos, não houver mais sobressaltos).

Tuesday, February 21, 2006

Sentidos da liberdade

As convencionais apologias do livre arbítrio impõem-nos o dever de optar. Mas por vezes a vida coloca freios às prelecções sobre a liberdade de escolha. A angústia de ter que escolher pode ser uma dolorosa experiência de violência. A verdadeira liberdade pode residir na senda de cenários permanentemente recompostos, com avanços, regressos e recomeços apaixonados, sem que se questione o sentido de cada caminho. Estar in between talvez também seja um imperativo ontológico...

Caprichos identitários

Há registos identitários que nos invadem de forma arrepiante: «olá, eu sou macua».

Thursday, February 16, 2006

Contextos...

«Esses aí [da telenovela] têm a mania de comer caviar. Você só ouve caviar, caviar, caviar… caviar com champanhe! Você pensa que é uma coisa chic, mas quando se vai ver, são ovas de peixe. Depois, nem anima…!»

Wednesday, February 15, 2006

Espinhos do centralismo democrático

A confecção de calçado com solas e saltos exageradamente elevados, que com frequência se vem produzindo em Moçambique, traduz-se afinal num gasto desproporcionado de matérias-primas, elevando ainda os custos de produção pelas dificuldades de fabrico de tais modelos. O uso solas e saltos altos é afinal resultado duma moda que traz até inconvenientes para a fácil movimentação e para a saúde de quem os usa.
A fim de pôr fim a estes inconvenientes, publicam-se agora as especificações que seguem e nas quais se indica a altura máxima que podem ter as solas e saltos fabricados em Moçambique a partir desta data.
Finalmente cria-se um sistema de controlo da escolha de modelos de sapatos a confeccionar, a fim de se evitar que a escolha dos mesmos onere a balança comercial de Moçambique e dos consumidores.
Assim:
1. A partir da data da publicação do presente despacho os sapatos fabricados em Moçambique obedecerão as seguintes imposições:

Sapatos de homem:
Altura máxima de solas – 20mm
Altura máxima de saltos – 50mm

Sapatos de mulher:
Altura máxima de solas – 25mm
Altura máxima de saltos – 75mm

[…]

6. A partir desta data fica expressamente proibido forrar em cabedal solas e saltos de sapatos ou socas, excepto se se tratar de sapatos de mulher modelo Luís XV (salto forrado).

7. Todos os industriais do calçado devem, a partir da presente data, submeter à aprovação da Direcção dos Serviços de Indústria (Núcleo de Promoção Industrial) as colecções de sapatos que pensam lançar, com indicação da referência, qualidade e preço de facturação à porta da fábrica, isento de impostos, de cada modelo. Os modelos apresentados, só depois de aprovados de acordo com as normas de padronização estabelecidas pela Direcção dos Serviços e Indústria poderão ser confeccionados.

(Transcrição do Despacho do Ministro da Indústria e Comércio, publicado no Boletim da República n.º 129, Iª série, de 4 De Novembro de 1976)

Tuesday, February 14, 2006

Pecado mortal: a vaidade

«Desde que te ponham num pedestal e te digam que és fantástico, tá-se bem. O resto não importa».
Diálogos de mel

Monday, February 13, 2006

Autocrítica e participação

«Tenho que reconhecer que o meu departamento tem nota negativa por causa do funcionamento das casas de banho. Vou fazer um estudo sobre o assunto para apresentar ao senhor director. Quando temos cursos com mais de 100 pessoas, o autoclismo faz mais de 200 descargas por dia. Isto é um problema para o equipamento»
Membro da administração

Sunday, February 12, 2006

Sexo em dedate: mal fodida.
Uma discussão que também por cá faria muito sentido, apesar dos mitos...

Friday, February 10, 2006

O momento cantado


Chove Chuva

Chove chuva, chove sem parar,
Chove chuva, chove sem parar

Pois eu vou fazer uma prece
Pra Deus nosso senhor,
Pra chuva parar de molhar
O meu divino amor

Que é muito lindo,
É mais que o infinito
É puro e belo inocente como a flor

Por favor chuva ruim
Não molhe mais o meu amor assim
Por favor chuva ruim
Não molhe mais o meu amor assim

Jorge Ben Jor

Maputo, hoje!

palavras para quê?



Wednesday, February 08, 2006

Definindo

A propósito dos comentários ao post anterior, há uma definição que se impõe.

Tuesday, February 07, 2006

Bons sonhos

Quando era miúdo ouvi muitas vezes dizer que quando se sonha com alguém em cumplicidades libidinosas, as almas encontram-se algures no mesmo instante e dão corpo ao sonho. Passados muitos anos, não me atrevo a fazer o balanço dos encontros furtivos, ainda que nos últimos tempos se tivessem tornado menos difusos. É compensador, tinham razão, mas fica-me sempre a esperança (ainda que remota) de ter sido uma viagem partilhada...

Monday, February 06, 2006

Nomes com vida

Há nomes mortos que nunca nos comovem. Há nomes que simplesmente nos agradam. Há nomes que nos encantam porque sorriem para a vida. Há nomes que são a poesia de contextos que nos marcam eternamente. Há nomes que fascinam porque contam histórias esquecidas. Há nomes que nos autorizam a mergulhar em intimidades alheias e adivinhar o sentido de uma lágrima.