Diversões municipais
Na falta de parques, espaços verdes, campos de jogos, etc., junto-me ao concelho municipal de Maputo na brincadeira dos circuitos. Para tornar a coisa mais séria, compramos miniaturas da cidade (não é importante que sejam muito precisas). Mas porque também nestas coisas não devemos deixar de lado uma certa filantropia, levo comigo alguns carros (emprestados!) do meu filho, o suficiente para que cada vereador tenha um ou dois. Debatemos novas rotas, trocamos os sentidos de várias ruas, proibimos a circulação noutras. Não esgotamos a paciência a discutir critérios. Sobra-nos tempo inventar buracos, fingir arranjos e simular qualquer reunião banal. O mais importante é fantasiar factos que pressuponham cortar o trânsito. O gozo está circular em ponto pequeno e vestir-se de personagens aflitas, surpreendidas com as novas regras e novos perigos. Alguém (talvez um funcionário condescendentemente aceite no grupo) faz de polícia, ávido de transgressões que lhe garantam mais uns trocos. E somos inocentemente felizes e orgulhosamente elitistas. Inventamos um plano de acção, damos-lhe um nome condizente com a nossa altivez: espelho(!) soa muito bem. Proibimos circulações estranhas, incómodas; charmosas apenas para excêntricos; e importantes para populistas lunáticos:
Também no mundo de fantasias, há pequenos problemas que surgem. Não nos demoramos em retóricas sobre soluções, cada um que avance como entender:
Por vezes também aparecem uns e outros mais complicados. Aqui já se exige maior aprumo. Impressionamo-nos com a eficácia do nosso discurso: repetitivo, evasivo, mas sempre convincente. E há problemas dificílimos de resolver. Estes não chegam sequer a nos incomodar, criativamente ficam fora do circuito. Sacrifícios adicionais não são permitidos. O importante é desordenar, criando uma ordem que só nós percebemos. Brincar é brincar...não nos peçam qualquer racionalidade...
6 Comments:
Como é bom brincar, e como é importante nunca nos esquecermos de brincar, eu vivia na Malhangalene, na Rua do Faro, como era bom brincar na rua, coisa que hoje já não se pode fazer, fruto do aumento de regras.
Parabéns pelo blog mais uma vez e continue a dar notícias desta terra abençoada por Deus.
Um bom fim de semana.
Peço desculpa, mas queria dizer-lhe que fiz um link directo ao seu blog para poder visitá-lo com mais frequência.
Às diversões municipais, penso que se pode fazer um link com a morte (literalmente) da cultura desportiva em Moçambique.
Para dar um exemplo, no Hospital José Macamo, na Av. OUA, o espaço em que foi construida a casa mortuária (de uma beleza arquitectonica) era justamente um mini-campo polivalente para a prática de desportos. Hoje, nada mais é do que a mais bela face da mediocridade de alguns dos nossos diretores e engenheiros. Dantes, à saída, a única do bairro (o então Zé dos pobres, talvez por isso que não deram ouvidos aos moradores) as crianças passavam e viam os mais velhos jogarem (futebol, basquete) e diziam: eis o meu futuro. Hoje (já que a saída é única) com os carros escuros e o cortejo mais lento, não mais vêem: velam e dizem: eis o meu futuro.
Ainda campo, dali sairam alguns jogadores que foram para o Águia d'Ouro, à altura em que a Lurdes também lá jogava. O Madalito, por exemplo. Hoje está para a África do Sul, mas pelo menos teve a sorte de sonhar com um futuro de vida.
Esta situação se repete em quase todos os bairros em que, na prática, o responsável pelo plano director é a miopia do secretário do bairro (e de alguns moradores e futuros moradores que compactuam).
A crise do desporto é agravada pela ausência de perspectivas e de políticas para o desenvolvimento urbano/peri-urbano, fazendo-se este ao sabor do acaso e/ou de interesses particulares que criam barreiras a tudo que sejam ações de planeamento integrado.
Alguns meninos iniciavam as suas aventuras nas estradas dos bairros. Mas hoje não há mais estrada no "zé dos pobres", se não crateras com ilhas de pavimento alcatroado. Assim se repete em muitos outros bairros.
Não é por acaso que os nossos primos mais novos, cujo único desporto resume-se a trocar semanalmente de celular, dizem: ainda bem que não vamos ter educação física. Corolário de uma morte anunciada: a da cultura do desporto.
Abraços,
MDeus, o charme do bairro da Malhangalene continua, apesar de tudo. Meu caro, não tem que pedir desculpa por utilizar o que é público. Força! Um abraço.
Alô Mangue, :) :)...
Lembro-me do Nana. Para mim, o melhor jogador de Moçambique (pós-independência). Saíu dos «campinhos» da polana (que já não existem). Não havia jogo que não fosse levado aos ombros pelos moradores do bairro. Um jogador delicioso, mágico! Mais tarde foi o craque do Costa do Sol, Matchedge e de novo Costa do Sol. Durante vários anos, foi um dos nomes incontornáveis na selecção nacional.
Há ainda jogos nalguns bairros (chamanculo, por exemplo). Mas nota-se a falta de treino dos «visitantes». Um agraço. (Quando é que estás por cá?)
Nessa simulação da realidade faltam as pilhas de cartas de condução sacadas aos automobilistas por infracções graves, por pequenas transgressões, por transgressões mínimas, por trangressões que não são sequer transgressões, porque apetece, porque não deu refresco, porque sou polícia e posso...
Pois é André, nem fales; quem os viu jogar, viu...
Só pra o ano é que estaremos os 3 aí, rs...
Forte abraço,
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