Sunday, January 29, 2006

Ontem no Estádio da Machava: UB 40 e muito mais

Ontem (quase) todos os caminhos foram dar ao estado da Machava. Mar de gente a lembrar outros eventos grandiosos. A organização deixou, contudo, muito a desejar. Uma única porta de entrada, incontáveis filas que desembocavam no mesmo lugar. Resultado: confusão! Havia alternativas, enquando se esperavam pacientemente: um bom churrasco e cerveja fresquíssima.
Monopolizaram a venda de bebidas no interior do estádio, sem que tivessem estrutura organizativa suficiente para satisfazer as exigências. Foi desastroso! Lembrando-me, dolorosamente, de outra frase, diria «o informal resolve». Os colmans ficaram de fora. Ainda assim, foi entrando alguma bebida através das vedações de rede.
A música foi excelente! Kapa Dêch (com Tony Django, que definitivamente está vivo), Ghorawane (com um show indescritível), Oliver Mtukudzi (sempre quente) e Lucky Dube (que fez levantar incrivelmente o estádio...!), trouxeram magia... Claro, circulou muita, muita ganza! A roda da ganza alargou-se, descreveu percursos curiosos...

E quando os UB 40 entraram, foi o êxtase... Inevitavelmente, quadris enroscados, suores e sabores trocados, abraços...e tudo mais que se possa imaginar.

Depois do fogo de artifício, churrasco, cerveja, música... Choveu, sim. A festa continuou fora do estádio, noite adentro. Fez-se festa!

Tuesday, January 24, 2006

Deus de Deus

Deus desce à terra, entranha-se nos dilemas locais. Não paira sobre os tempos, multiplica-se em espíritos rebeldes que se rendem à mortalidade. Disputa argumentos inscritos nos solos e nos cheiros meticulosos. Recombina-se em curandeirismos e profecias de salvação, de mãos dados com o profano. Não tem ciúmes do pecado, aceita reconstruir novas religiosidades. Mora no sincretismo local, renega a universalidade que não lhe pertence. «Thokoza, siavhuma, amén…», vai registando a sua identidade...

Sunday, January 22, 2006

Pecado mortal: a gula

Dúvida: que dizer a um amigo que leva sais de fruta para um buffet ?

Friday, January 20, 2006

Amilcar Cabral



33 anos depois da morte de Amilcar Cabral, muitas missões por cumprir. Ainda assim, uma palavra de esperança.

Regresso
Mamãe Velha, venha ouvir comigo
o bater da chuva lá do seu portão.
É um bater de amigo
que vibra dentro do meu coração.
A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,
que há tanto tempo não batia assim...
Ouvi dizer que a Cidade-Velha
- a ilha toda -
Em poucos dias já virou jardim...
Dizem que o campo se cobriu de verde,
da cor mais bela, porque é a cor da esp'rança.
Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.
- É a tempestade que virou bonança...
Venha comigo, Mamãe Velha, venha,
recobre a força e chegue-se ao portão.
A chuva amiga já falou mantenha
e bate dentro do meu coração!
Amilcar Cabral

Thursday, January 19, 2006

Maior ou menor?


Não sei se é patológico ou cultural, ou até ambas coisas. Há pessoas que não se livram de um certo desconforto cada vez que se sentem obrigados a usar uma casa de banho alheia. Ultrapassam a tautológica discussão sobre a (in)delicadeza do acto, põem o problema nos limites da privacidade. Recolhem-se, nervosos, num debate indeciso sobre o alcance do (im)partilhável. O que é tenebroso é permitir que os outros adivinhem as suas aflições - «deixar em aberto o leque de hipóteses, ainda abriga o último reduto da intimidade», convence-se de alguém se entretém com probabilidades sórdidas. Bastam-se com o convencional «posso usar a casa de banho?», ao que ninguém pergunta «para quê?». Invasões de outra natureza são mais aceitáveis. Noutros contextos, onde cada espaço (latrina) se destina a uma específica função fisiológica, àquela súplica, impõe-se uma pergunta óbvia - «maior ou menor?». Há muitos que não se adaptam, sofrem em silêncio…

Saturday, January 14, 2006

Trajectos


Por aqui passa um mundo distante de quem habita estas terras. Muitos por aqui ficam e reconstroem a cartografia da sobrevivência. Outros partem, cumprem juramentos audazes. Poucos regressam com o sorriso de quem se esquivou do destino. Os sonhos cabem na palma de uma mão e têm nomes concretos. Nomes que abundam o mundo que cruza estes chãos, apressado. Para trás fica a névoa de pó, companheira não escolhida dos que vão fazendo caminho. E com ela, os cumprimentos das crianças, de mão estendida - «doce, doce, doce…». Não chegam a ser ouvidas. Desta vez não houve chuva de rebuçados, um gesto maquinal que resguarda as consciências. As crianças aguardam a próxima caravana, enquanto inocentemente tecem a vida com outras cores...

Thursday, January 12, 2006

Uma onda no ar



Um excelente retrato dos antagonismos do Brasil, dividido entre a favela e o asfalto - «a Lei Áurea foi assinada a lápis», Jorge (Alexandre Moreno) insurge-se contra o majestoso acto da princesa Isabel, lembrando que a história não se esgota na solenidade política. A igualdade ainda é uma quimera. Um filme apaixonante inspirado na história verídica da Rádio Favela de Belo Horizonte. Uma rádio transgressiva que, assumindo o confronto com o poder, se apropria das ondas do asfalto para criticar o sistema e divulgar a cultura popular - «a voz do morro, a verdadeira voz do Brasil». Um filme sedutor que há alguns anos tem vindo a encantar o mundo.

Wednesday, January 11, 2006

Allah Akbar

Boas festas.