Wednesday, February 15, 2006

Espinhos do centralismo democrático

A confecção de calçado com solas e saltos exageradamente elevados, que com frequência se vem produzindo em Moçambique, traduz-se afinal num gasto desproporcionado de matérias-primas, elevando ainda os custos de produção pelas dificuldades de fabrico de tais modelos. O uso solas e saltos altos é afinal resultado duma moda que traz até inconvenientes para a fácil movimentação e para a saúde de quem os usa.
A fim de pôr fim a estes inconvenientes, publicam-se agora as especificações que seguem e nas quais se indica a altura máxima que podem ter as solas e saltos fabricados em Moçambique a partir desta data.
Finalmente cria-se um sistema de controlo da escolha de modelos de sapatos a confeccionar, a fim de se evitar que a escolha dos mesmos onere a balança comercial de Moçambique e dos consumidores.
Assim:
1. A partir da data da publicação do presente despacho os sapatos fabricados em Moçambique obedecerão as seguintes imposições:

Sapatos de homem:
Altura máxima de solas – 20mm
Altura máxima de saltos – 50mm

Sapatos de mulher:
Altura máxima de solas – 25mm
Altura máxima de saltos – 75mm

[…]

6. A partir desta data fica expressamente proibido forrar em cabedal solas e saltos de sapatos ou socas, excepto se se tratar de sapatos de mulher modelo Luís XV (salto forrado).

7. Todos os industriais do calçado devem, a partir da presente data, submeter à aprovação da Direcção dos Serviços de Indústria (Núcleo de Promoção Industrial) as colecções de sapatos que pensam lançar, com indicação da referência, qualidade e preço de facturação à porta da fábrica, isento de impostos, de cada modelo. Os modelos apresentados, só depois de aprovados de acordo com as normas de padronização estabelecidas pela Direcção dos Serviços e Indústria poderão ser confeccionados.

(Transcrição do Despacho do Ministro da Indústria e Comércio, publicado no Boletim da República n.º 129, Iª série, de 4 De Novembro de 1976)

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

É verdade.
Mas fora a parte legal havia a informal autoritária:
- As calças "bocas de sino";
- Os cintos com fivela USA mesmo que fosse "Yankees go home";
- Camisolas apertadas em adolescentes;
- Cabelos compridos;
- Mulheres moçambicanas casarem com estrangeiros;
- Ir jantar a casa de burgueses mentalmente bloqueados, mas ficar na cozinha com o povo;
- Enfim: ser Chiconhoca.
Mas , francamente, não era o mais importante. O importante mesmo foi a rapinagem dos " meios de produção".

12:51 AM  
Blogger Nkhululeko said...

Memórias de um percurso difícil, mas de muita esperança. Um abraço.

9:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

A Esperança felizmente sobreviveu.

7:51 PM  
Anonymous Anonymous said...

Puxa que lei mais avançada!!!!

5:33 PM  

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