Sunday, November 26, 2006

Richard Bona, hoje

Hoje no coconuts, um dos meus preferidos: Richard Bona. Magnífico! No entanto, o público forçou um apelo do músico: «did you come to the concert?». Em seguida, mais explícito e em português: «silêncio, por favor». Enfim, coisas que ultrapassam a minha compreensão…

Saturday, November 25, 2006

Memórias do futuro

Há noites assim...as memórias que ficam confundem-se com o que está para vir.

Monday, November 20, 2006

Feira do pau II

Depois disto, uma boa solução. Ainda bem.

Sunday, November 19, 2006

Erupções de liberdade

«…Any study of the colonial world should take into consideration the phenomena of dance and possession. The native’s relaxation takes precisely the form of muscular orgy in which the most acute aggressivity and most impelling violence are canalized, transformed and conjured away. The circle of the dance is a permissive circle: it protects and permits […] There are no limits – for in reality your purpose in coming together is to allow the accumulated libido, the hampered aggressivity, to dissolve as in volcanic eruption»
Frantz Fanon, the wretched of the earth, 2001, London, Penguin Books, pp. 44-45.

Friday, November 17, 2006

Nome de chapa I: Crazy

A questão que se me coloca na série «nome de chapa», hoje inaugurada: que mundos transportará um nome?

Tuesday, November 14, 2006

(...)

«Casquilho do triângulo da frente», o meu desespero. Nunca tinha ouvido tal nome. Peça abundante, mas estranhamente escassa a série que me serve. Revoltante, ainda mais por ser minúscula. Conduz-me a um mercado de gente diversa, de casa em casa. Na primeira, o computador fornece-me a referência certa, mas que só recebo através de um esquema. Maldita concorrência. Tento outra sorte. Suponho que me dissimula a ignorância, dizer a referência de memória. Engano-me. Fico balançado perante a insistência de um vendedor sabido. Uma opinião amiga desvenda a trampa. Ao vendedor serve a carapuça de um certo estereótipo. Debato-me. Sigo. Numa cave sombria, entre o folhear de catálogos desajustados e obsoletos, recebo promessas de encomendas da África do Sul, para os próximos dias. Volto mais tarde e fico a saber por outras pessoas que, estando os sócios desavindos, não aceitam encomendas. Noutros lugares, não há nada que substitua os olhos do vendedor: «traz amostra!», é incontornável. Não há referência ou catálogo que sirva, muito menos os documentos do carro. Um esclarecimento adicional antecipa-se à indignação: «aqui em Moçambique você não pode dizer que este carro é isto ou aquilo…é uma mistura de marcas e modelos…e os documentos também sabes como funcionam as coisas». Não contesto a cumplicidade. Rumo para uma oficina-tasca. Surpreende-me a proprietária, mulher conhecedora de peças. Os preconceitos perseguem-me. Puxo conversa. Explica-me motivações e exibe orgulhos. O marido do lado de lá, do lado da tasca, enrola-se entre goles de whisky velho. Alinho numa bebida. Aqui também se aconselha o empirismo. Medidas tiradas, por atenção especial, amanhã receberia uma peça «arranjada à maneira». De bónus, recebo uma fraterna palmada nas costas. O ar matreiro diz-me tudo. Entro em mais três casas. Recomendam-me uma, com convicção. A nacionalidade do proprietário é referência segura: «vendem tudo». Lá está! Vejo e revejo catálogos, interrogo, suspeito, corrijo as medidas, apalpo, cheiro…verdadeiro casquilho a peça! À saída lembro-me que não me passaram a factura. Outro estereótipo que se acomoda. Persegue-me agora a treta do Estado… o estereótipo mais estúpido…! E os fantasmas a sussurrarem-me…carpe diem

Sunday, November 12, 2006

Conflito de classes

«E então, Mais-Velho? Lês Marx e comes bacalhau assado, não é?»
(Luandino Vieira, Nós, os do Makulusu)

Sentidos da vida

«Originários da região de Sena, as sociedades Nomi eram associações de adolescentes de ambos os sexos que se “assalariavam” voluntariamente, por períodos limitados. No fim do contrato, como forma de o celebrar, os Nomi entregavam-se a um prolongado, esbanjador e erótico banquete colectivo».
(Leroy Vail e Landeg White, capitalism and colonialism in Mozambique – a study of Quelimane district)

Friday, November 10, 2006

Maputo: 119 anos

Feriado, mais um aniversário de Maputo. No ano passado, o post foi dedicado a estas fortalezas. Hoje, mais nostálgico, lembro-me do concerto dos 100 anos da cidade, na avenida 25 de Setembro. Já lá vão, pois, 19 anos, bem antes dos interesses imobiliários se imporem aos eucaliptos. Entre nós e o palco, toda a largura da rua e uma barreira policial muito forte. Um verdadeiro elogio ao absurdo. O pessoal inventa um coro revoltado contra os «bufos». Começa a cheirar a soruma. Os polícias enervam-se, lançam acusações e os bastões em riste. Não há como identificar as pessoas. E nisto entram os ghorwane. A irreverência está consolidada. Uma música propositada contra a violência policial e um incitamento para que ocupássemos a estrada. Legitimados pelos «bons rapazes», obedecemos, dispostos a partir tudo e todos. Fartos! Não há como nos travar. A polícia recolhe. Segue-se massotcha, uma rebeldia contra a guerra. Depois uma música contra a fome. Faz-se política em festa. O mito ghorwane tem chão. 19 anos…! O que se ganha, o que se perde e o que se transforma nesse tempo que nem sempre é nosso…

Sunday, November 05, 2006

Amandla! A revolution in a four part harmony


«For over 40 years africans fought back with non-violent protest. Eventually, some turned to armed struggle. Throughout the struggle, there was music». Amandla! A revolution in a four part harmony, um filme comovente e apaixonante sobre o papel da música na luta contra o apartheid. Uma harmonia criativa de contextos, depoimentos, memórias, música e dança. A verdade histórica numa imagem inicial: um negro a dançar toyi-toyi no terraço do edifício John Voster Square, o quartel-general da polícia. E uma frase de Hendrik Verwoer que levaria a crueldade humana ao extremo...enquanto uma boa parte do mundo escondia a cabeça: «o apartheid é a política da boa vizinhança». Uma música marca o filme, atravessa os tempos e clama pela verdade, ainda com reconciliações por cumprir: senzenina (What have we done? Our sin is that we are poor/ Our sin is that we are black/ They are killing us/ Let Africa return).

Wednesday, November 01, 2006

Lampard, ontem

Deus foi plagiado. Plenamente de acordo: obsceno!

“O pequeno é belo”

Depois de alguns anos de prepração atravessados por duros momentos de discussão, com avanços, retrocessos, ânimos, desânimos, (in)compreensões, etc., realizou-se o primeiro Forum Social Moçambicano. A marcha realizada no último domingo não fechou os debates sobre os rumos de Moçambique e do mundo, antes reabriu-os simbolicamente para novos campos. Foi (e tem sido) um processo muito difícil, como também têm sido as lutas do quotidiano. O balanço do Forum está por fazer (e deve ser feito). Se o número de participantes eventualmente sugere que se encontrem estratégias de mobilização mais criativas e sistemáticas, a avaliação que se fizer do Forum exigirá que se tomem as cautelas necessárias para não se cair em qualquer fetiche contabilístico. Há experiências participação que valem por si, pelas práticas que serão capazes de potenciar (se os protagonistas a isso se propuserem, naturalmente). As potencialidades do Forum podem advir exactamente do que aos olhos de alguns pode ser a imagem do seu fracasso: ausência de grandes nomes, grandes personalidades, grandes multidões, grandes eventos, grandes produções, grandes mediatizações (e até grandes negócios). Foi um evento despretensioso, de reflexão profunda, de cultura e de articulação, que me obriga a repensar nos sentidos da indignação de Naomi Klein contra o sequestro do Forum Social Mudial pelo mito do «grande», em prejuízo da inovação.