Thursday, January 19, 2006

Maior ou menor?


Não sei se é patológico ou cultural, ou até ambas coisas. Há pessoas que não se livram de um certo desconforto cada vez que se sentem obrigados a usar uma casa de banho alheia. Ultrapassam a tautológica discussão sobre a (in)delicadeza do acto, põem o problema nos limites da privacidade. Recolhem-se, nervosos, num debate indeciso sobre o alcance do (im)partilhável. O que é tenebroso é permitir que os outros adivinhem as suas aflições - «deixar em aberto o leque de hipóteses, ainda abriga o último reduto da intimidade», convence-se de alguém se entretém com probabilidades sórdidas. Bastam-se com o convencional «posso usar a casa de banho?», ao que ninguém pergunta «para quê?». Invasões de outra natureza são mais aceitáveis. Noutros contextos, onde cada espaço (latrina) se destina a uma específica função fisiológica, àquela súplica, impõe-se uma pergunta óbvia - «maior ou menor?». Há muitos que não se adaptam, sofrem em silêncio…

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