“O pequeno é belo”
Depois de alguns anos de prepração atravessados por duros momentos de discussão, com avanços, retrocessos, ânimos, desânimos, (in)compreensões, etc., realizou-se o primeiro Forum Social Moçambicano. A marcha realizada no último domingo não fechou os debates sobre os rumos de Moçambique e do mundo, antes reabriu-os simbolicamente para novos campos. Foi (e tem sido) um processo muito difícil, como também têm sido as lutas do quotidiano. O balanço do Forum está por fazer (e deve ser feito). Se o número de participantes eventualmente sugere que se encontrem estratégias de mobilização mais criativas e sistemáticas, a avaliação que se fizer do Forum exigirá que se tomem as cautelas necessárias para não se cair em qualquer fetiche contabilístico. Há experiências participação que valem por si, pelas práticas que serão capazes de potenciar (se os protagonistas a isso se propuserem, naturalmente). As potencialidades do Forum podem advir exactamente do que aos olhos de alguns pode ser a imagem do seu fracasso: ausência de grandes nomes, grandes personalidades, grandes multidões, grandes eventos, grandes produções, grandes mediatizações (e até grandes negócios). Foi um evento despretensioso, de reflexão profunda, de cultura e de articulação, que me obriga a repensar nos sentidos da indignação de Naomi Klein contra o sequestro do Forum Social Mudial pelo mito do «grande», em prejuízo da inovação.
11 Comments:
O forum trouxe qualquer coisa de novo a este contexto enquanto primeira experiência e, nesse sentido, todos os que contribuiram para a sua realização estão de parabéns. Terá, sem dúvida, que ser avaliado. Na minha opinião, terá que crescer. O pequeno é belo? Não necessariamente. O fórum vale enquanto lugar de participação e de discussão. Vale pela qualidade das mesmas. Mas se estas se limitarem a um número muito restrito, se não sairem do pequeno grupo de pessoas que esteve presente no forum, como contribuirão para um outro Moçambique? Contribuirão, é certo, para o crescimento individual de algumas pessoas, o que já por si é bom. Cada um tem o seu papel na contrução de um outro mundo. Mas é o suficiente? O forum social mundia é grande? Talvez para os que podem lá estar. A mim parece-me pequeno. O que se discute fica muito longe da maioria das pessoas, chega tvz a outros foruns, dificilmente chega ao cidadão comum, seja ele o cidadão de Macossa ou de uma qualquer cidade europeia. Não me parece que deva haver complexos na mediatização, nas estratégias de atracção que promovam a participação de pessoas que estão longe da vida associativa e desconhecem as discussões em causa. Terão, com certeza, alguma cois a acrescentar.
Depende do sentido que se der ao «crescer» e das condições desse crescimento. Creio que tudo passa pela necessidade de fortalecimento dos movimentos e, claro, de resistências contra os perigos de co-optação. Nessa medida, o pequeno pode efectivamente ser belo, na medida em que estará provavelmente em melhores condições de inovar nas temáticas, nas abordagens, nos métodos e nas articulações. É mais do que assente que aqui não há quaisquer apriorismos, ainda que a metáfora dos tamanhos seja sedutora. De qualquer modo, a ausência dos «grandes» (cujas alianças são bem conhecidas no nosso país) pode ser um bom presságio para o Fórum.
As contribuições para um «outro Moçambique» não passam (e não têm que passar) necessariamente pelo Fórum Social, ainda que este exerça um papel político e simbólico importante. Felizmente há tantos outros espaços de debate, de luta, de articulação pelo país. O papel de cada um nunca será suficiente enquanto persistirem as razões que originam as lutas que têm sido travadas. Que rumo seguir? Obviamente que não é a mim que cabe responder. Não há complexos de mediatização, há apenas uma preocupação (expressa) em encontrar estratégias de mobilização mais criativas e sistemáticas, com a esperança de que cada um «traga um amigo também».
A crítica que se faz ao Fórum Social Mundial tem a ver com a mudança qualitativa dos slogans, que reflecte as suas fragilidades. No primeiro Fórum: inovação, alternativa; nos últimos: grandioso. Apesar das ausências (temática e de pessoas), é inegável que o Fórum Social Mundial é um grande evento. Em que é que resultará? É, claro, outra questão.
Mensagem nº3
Não estive, mas pelas palavras que já me são familiares, deve ter sido um evento (grande ou pequeno? que interessa?) belo, de certeza, porque te fez parar para falar dele, porque não te deixou indiferente. Obrigada pela essa tua partilha do belo.
Ainda bem que voltaste!
Paula
Nota de rodapé (acho que fica melhor assim, em vez de estar a ordenar as tuas mensagens):
E para que não começes já a resmungar sobre o que disse e q não tem nada a ver com o teu post,etc. ,um pequeno acrescento: O belo nunca foi universal e as revoluções que mobilizaram muitas pessoas frequentemente as trairam. Melhor que as deixassem deliciar com os seus próprios sentidos do belo, em vez de as chatearem com ideologias e debates que apenas enchem a barriga e os egos aos grandes nomes que nunca faltam num fórum social mundial(desses não tenho pena nenhuma). É muitas vezes nesse sentido que se fala da tal "nação adiada".
bj
Olá Paula! É bom dar conta que estás cheia de forças.
Olha, não me parece que as pessoas sejam meros receptáculos ideológicos. Também por isso não me entra muito bem essa coisa da «nação adiada», muitos menos dos «estados colapsados» (que não é exactamente o teu ponto, sei). Aguardam-nos deliciosos momentos de discórdia. Ainda bem. Até breve (se a «maca» dos vistos de entrada não me adiar a cidadania).
Registre-se a nossa participação, ainda que virtual.
Pois é André, o bébés não têm realizações e nem por isso deixam de ser prodigiosos: pequenos e belos. As realizações, quando vierem, virão com o tempo.
Saúdo o forum! Tal "Homem que plantava árvores" (aproveitando, filme sugestivo).
Abraços
Um abraço, Mangue. Quando é que tenho que ter a matapa pronta? Já passa muito tempo...
Sem a mandioqueira, nem pensar. Enquanto isso, contentemo-nos com a matapa de hambúrguer e demais enchidos. Importa que aquela plantação tenha começado. É assim mesmo. Nesse filme, “O homem que plantava árvores”, de 100 mil sementes, só 10 mil vingaram (depois elas assumem por si mesmas o efeito multiplicador).
Forte abraço
faz sentido. Pelo menos haverá também um bom acarajé. Já sei que não topas «caipas», senão recomendava (que desperdício, mas que fazer?. Boa sementeira e excelente colheita. Abraço.
Maningue, André. Como não topo, pá!? É só mandar ver. Obrigado e boa ceifa desse lado! A quantas anda? Abraços!
Lentamente, entre algumas caipas e «birras»...o verão está aí, chama por mim. Mas, como dizia o outro, «confiance, segurance e confiance». Estou tranquilo, é o que importa. Talvez baze em janeiro para terminar. Veremos. Abraço.
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