Perguntas a Michel Cahen
Algumas perguntas que gostaria fazer a Michel Cahen, a propósito da entrevista publicada no DN e reproduzida no Moçambique para todos:
1) Portugal tinha a obrigação de impor um regime multipartidário em Moçambique? Essa posição já não seria paternalista?
2) Não serão artificiais todas as fronteiras político-administrativas?
3) O direito de autodeterminação dos povos foi reivindicado dentro dos limites (ou extensões) territoriais coloniais. Não é legítima a «apropriação» dos mesmos espaços para a construção de um Estado independente?
4) «O resto seremos nós a descobrir sem que nos digam como devemos fazer», disse um escritor moçambicano. O que acha desta afirmação?
5) Não é importante partilharmos futuros, em vez de nos dedicarmos a uma arqueologia de quiméricos passados pré-coloniais?
6) Qual o peso da guerra contra a Rodésia, África do Sul e Renamo no fracasso do projecto político da Frelimo?
7) Qual é o peso do isolamento de Moçambique no contexto da guerra fria?
8) «Os africanos têm uma relação muito forte com o espírito dos seus antepassados. Pelo que deixar as suas terras significava também deixar os antepassados para trás». Não acha que se está a guiar por estereótipos fora de moda?
9) Não será insuficiente conceber, recorrentemente, as autoridades tradicionais como vítimas? Não acha que a sua vitalidade política também resulta do facto de, enquanto instâncias de poder, serem capazes de mobilizar projectos de organização social e política, lutando contra manipulações do Estado?Não acha que se deve também falar em democratizar as autoridades tradicionais?
1) Portugal tinha a obrigação de impor um regime multipartidário em Moçambique? Essa posição já não seria paternalista?
2) Não serão artificiais todas as fronteiras político-administrativas?
3) O direito de autodeterminação dos povos foi reivindicado dentro dos limites (ou extensões) territoriais coloniais. Não é legítima a «apropriação» dos mesmos espaços para a construção de um Estado independente?
4) «O resto seremos nós a descobrir sem que nos digam como devemos fazer», disse um escritor moçambicano. O que acha desta afirmação?
5) Não é importante partilharmos futuros, em vez de nos dedicarmos a uma arqueologia de quiméricos passados pré-coloniais?
6) Qual o peso da guerra contra a Rodésia, África do Sul e Renamo no fracasso do projecto político da Frelimo?
7) Qual é o peso do isolamento de Moçambique no contexto da guerra fria?
8) «Os africanos têm uma relação muito forte com o espírito dos seus antepassados. Pelo que deixar as suas terras significava também deixar os antepassados para trás». Não acha que se está a guiar por estereótipos fora de moda?
9) Não será insuficiente conceber, recorrentemente, as autoridades tradicionais como vítimas? Não acha que a sua vitalidade política também resulta do facto de, enquanto instâncias de poder, serem capazes de mobilizar projectos de organização social e política, lutando contra manipulações do Estado?Não acha que se deve também falar em democratizar as autoridades tradicionais?
Em relação à pergunta (da entrevista) se os moçambicanos votaram «conscientes do que faziam» e à resposta «penso que sim», contenho-me…em silêncio!!!
7 Comments:
Ou me engano, possível, claro, ou Michael Cahen e a Lusotopie t~em uma excessiva visão 'académica'de Moçambique. Nos seus vastos 'comité de redacção','conselho científico' e 'comité de leitura' (http://www.lusotopie.sciencespobordeaux.fr/) não vejo um único moçambicano residente em Moçambique, - e se os há da diáspora ou de trabalho científico no estrangeiro também não reconheço um unico nome - sendo que só lá tem assento um guineense de Bissau.
Não estou a retirar valia à elocubração intelectual, académica clássica. Questiono é tantas certezas acerca dos sentires populares e realidades sociais e políticas, baseados em leituras por mui dignas que sejam, suportadas por 3 ou 4 visitas ao cujus em décadas.
Moçambique não é um fóssil: está Vivo.
não li a entrevista: hei-de lá ir numa madrugada noctívaga. daí que comento "na água" o post:
4. diz-se lá no meu país: "com a verdade me enganas".
Ou seja, uma coisa é obedecer a uma agenda de investigação imposta de fora (por financiamentos, por modismos, por hierarquias explicitas e/ou implicitas de tutorias, por etc). Outra coisa é chauvinismo intelectual: nenhuma realidade perde em ser analisada por quem olha de fora (ainda que este "de fora" não seja nada sinónimo de "de fora do país")
5. não são quais são esses "quiméricos passados" (repito, não li a entrevista). Mas não há pior do que a exigência da aplicabilidade da investigação - pensar o futuro e deixar as minudências do hoje e do ontem (neste caso, anteontem).
Bem agora preparo-me para a leitura,lá para a noitinha
Gil a noção de quem estuda de fora, quem não reside, é paleontologista é pobre. e a palavra "elocubração" diz tudo - ninguém a aplica às elocubrações dos jornalistas, das telvisões, dos residentes, dos romancistas, dos memorialistas. E, pior, dos bloguistas
hummm... isso dá pano para mangas... vou matutar, inclusive se me expliquei bem. É que conheço a Lusotopie já há algum tempo e não sou fã dela. Sempre a achei com fraco suporte - daí, talvez, a palavra que me veio ter sido a 'elocubrações' -, assim como se fosse uma ong intelectual mas confortavelmente distante dos seus campos de intervenção/estudo. Nada a opor à visão académica na análise social e política. Feita com brio e eficiência, seriedade nas conclusões. Claro, até acho que nem seria necessário dizê-lo. Mas, e na entrevista eu li isso, há cheiros que só 'lá' é que se apreendem para, depois, reflectidos e microcospiados, botar faladura ou escrita sobre eles. Até argumento-razão contrários, penso assim.
Procurei partilhar algumas das dúvidas e perturbações que a entrevista me suscitou, tendo também em conta o que estará para além das afirmações explícitas. Não conheço os «comités» da Lusotopie, as nacionalidades dos seus membros pouco nos dizem sobre o trabalho das pessoas (e, claro, ser moçambicano não é qualquer selo de garantia). Como Carlos Gil, sou reticente em relação à forma categórica e estática com que se apresenta o mundo.
Caro JPT, a estéril discussão sobre «fronteiras artificiais», «fronteiras que dividem povos», etc, obriga-nos a estar fechados sobre a discussão de sempre, virada para um passado desencontrado. Há que avançar! Concordo, estar «de fora» não é sinónimo de «ser de fora». Como temos visto, pode-se «ser de dentro», estando «de fora», uma vez mais, what ever it might be.
Muito bem perguntado!! abraço, IO.
Um abraço, chuinga.
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