Wednesday, November 16, 2005

Desespero na IMA

Com a maquinag, dei um exemplo de desestruturação da indústria metalúrgica moçambicana. Um dos visitantes do blog (José Paulo) mostrou que há tantos outros «exemplos de desesperança» no país. Hoje, como em todas as quartas-feiras, dezenas de trabalhadores da IMA reúnem-se na sede do Conselho da Cidade da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos. Procuram saber dos dirigentes do respectivo comité sindical como correm os processos de negociação para o pagamento de compensações e salários em atraso. A Fábrica, com capitais privados e do Estado, fechou. Segundo os dirigentes do sindicato, não resistiu à concorrência de produtos (mais baratos) importados da África do Sul. Não conseguindo amortizar as dívidas contraídas num banco, foi executada. Não houve, contudo, qualquer processo de declaração de falência, afirmam. Suspeitam que haja maquinações macabras. Não adiantam pormenores, mas não escondem a inquietação. Os órgãos judiciários estão à margem destes problemas, lamentam. Em princípio, na sexta-feira, os trabalhadores da IMA assinarão um acordo com o Instituto de Gestão de Participações do Estado, com vista ao pagamento das compensações e salários em falta. Contudo, com o encerramento da fábrica, adivinha-se o agravamento dos problemas sociais - «demos a nossa vida pela empresa e agora vamos para a rua...as máquinas da empresas estão lá paradas...», queixam-se dos tempos. Ainda que lamentem o desamparo, não estão resignados...

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

A desestruturação de todo o tecido industrial moçambicano e não só no exemplo paradigmático da metalurgia e metalomecânica é uma realidade nos dias de hoje, por várias razões sobejamente conhecidas. Gostaria no entanto de realçar que a passagem de uma economia centralizada, de defesa da indústria nacional, para um regime de economia de mercado, de privatizações (selvagens?), onde por um lado, grande parte dos novos empresários não o eram, no sentido de serem verdadeiros empreendedores, mas viram as empresas tão só como um meio de fácil enriquecimento, não se preocupando com a necessária reorientação do negócio e por outro, pelo desadequado quadro aduaneiro e fiscal que em muitos casos penaliza mais a importação das matérias primas do que do produto acabado, fez com que a indústria entrasse em colapso. O Estado tem fortíssimas responsabilidades nesta situação (e não chega só acusar o FMI e o BM pela imposição de medidas liberalizadoras...). Um exemplo? A 1ª ministra anunciou recentemente a importação de 70 machibombos para os TPU. Ora a Salvador Caetano, fábrica de autocarros na Matola, está praticamente parada... Abraços

6:23 PM  
Blogger Nkhululeko said...

Bem apontado, José Paulo. Eu tiraria, o ponto de interrogação ao «selvagem». Haverá alguma saída para isto?

5:25 PM  
Anonymous Anonymous said...

Apesar de tardiamente respondo à questão levantada. Penso que ainda há uma saída se por um lado, o Estado assumir as suas responsabilidades na elaboração e implementação de uma verdadeira política de desenvolvimento industrial e nacional, após o desvairio das privatizações, assente em:
- estimulo à ligação escola-empresa (universidade-empresa se preferirem);
- Incentivos à criação de empresas por parte de jovens técnicos saídos das universidades e/ou escolas técnicas;
- Incentivos à reorganização / reengenharia das empresas, bem como aos investimentos de inovação e desenvolvimento, em conjunto com um adequado sistema de financiamento bancário;
- Alteração da legislação fiscal e aduaneira, favorecendo por um lado os empresários que invistam nas suas empresas em equipamentos de modernização e na criação e manutenção de postos de trabalho e por outro, penalizando em termos de pauta aduaneira os produtos manufacturados e aligeirando a importação de matérias-primas;
- Fomento da exportação de produtos acabados e com valor acrescentado, particularmente da agro-indústria (não falemos das fábricas de descasque de cajú...);
- Incentivo à instalação em Moçambique de grandes empresas ligadas à agro-indústria, garantindo a introdução de novas técnicas de cultivo e potenciando a ligação e a elevação da produtividade de pequenos e grandes produtores agrícolas, para o abastecimento local e a exportação de bens alimentares;
- Forte incentivo e investimento na qualificação dos trabalhadores e dos quadros, por intermédio de programas de formação-acção (combinação de formação teórica em sala com a formação prática no posto de trabalho).
- Outra questão importante seria a coordenação com o Ministério da Educação para o lançamento de programas visando os profissionais em situação de analfabetismo funcional.
Com o fluxo de fundos provenientes das mais diversas fontes, não é difícil montar e defender junto dos financiadores externos programas deste tipo.
Em segundo lugar, uma saída poderá ser encontrada, se as associações empresariais (na indústria em particular, a AIMO e a CTA) se preocuparem, de facto, em defender uma estratégia de desenvolvimento industrial e de pressão junto dos ministérios económicos, propondo políticas e sistemas de incentivos, estimulando as empresas a modernizarem-se em tecnologia, em sistemas de gestão e eficiência organizacional e investindo, elas também, na formação profissional e na elevação da qualificação dos seus associados, principalmente em termos de gestão estratégica.
Por último, o papel a desempenhar pelas associações sindicais, ultrapassando a mera defesa dos postos de trabalho sem qualificação e da elevação das remunerações, assumindo a necessidade de sacrifícios para garantir a manutenção de postos de trabalho e de acumulação de capital para o investimento, mas também defendendo o direito à formação para a requalificação e o direito à informação. Isto poderia ser conseguido por intermédio de pactos (acordos)sociais com um plano estratégico de desenvolvimento das empresas, previamente acordado.
Outras pessoas estarão certamente mais habilitadas para responder a esta questão, mas o que conheci e conheço da indústria moçambicana, sempre me levou a acreditar na capacidade dos trabalhadores moçambicanos, na sua vontade de aprender, desde que adequadamente enquadrados e mobilizados em torno de um projecto que vise a perenidade das empresas e o bem comum, com uma forte liderança e adequada comunicação. Conheci e conheço gente empreendedora, que assumiu a gestão e a propriedade de diversas empresas, as modernizou e transformou em exemplos de gestão, paz social e mesmo internacionalização, competiundo com vantagem com empresas sul-africanas e de outras origens.
Não me parece que tenha desaparecido a disponibilidade que vi nas pessoas em estudarem depois do horário de trabalho, a sua apetência para aprenderem novas técnicas como aconteceu com os operários que frequentaram os centros de formação, bem como o interesse em saberem da real situação técnica-económica-finaceira das empresas onde trabalhavam. Não me parece que todos os quadros forjados nestas décadas de independência tenham perdido a sua competência técnica, capacidade de análise e de abnegação. Estou a recordar-me de tempos idos? Que seja! Foram experiências que ficaram e de que me orgulho e que serviram para provar que existem outros caminhos possíveis, se a isso estivermos dispostos. Abraços
PS: Penso que está a decorrer um forum no sentido da definição de uma política industrial, mas não tenho tido informações sobre o assunto. Há também um texto produzido pelo Dr. Castel-Branco sobre o desenvolvimento industrial mas não o tenho em meu poder.

1:46 PM  
Blogger Nkhululeko said...

Se concordar, publico este comentário como um post. Infelizmente não sei desse forum, estou curioso. Devo ter o texto a que se refere. Se tiver o seu mail, mando logo que o encontrar. Um abraço

3:37 PM  
Anonymous Anonymous said...

Caro, pode publicá-lo se entender. Existem vários documentos sobre política industrial para além dos textos do Dr. Castel-Branco e que foram produzidos pela Ernst & Young ainda este ano. O meu mail é pinto.lobo@mundiservicos.pt, agradecendo-lhe desde já a sua amabilidade. Abraços

1:15 PM  

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