Monday, November 14, 2005

Links deslinkados

E o nkhululeko, no post anterior, remete para um link deslinkado...acessível apenas com palavra-chave. Aí vai a cópia da entrevista ao Rui Marques, publicada na edição de hoje do «Público».
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Integração de imigrantes passa por modelo multicultural

O novo alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas pretende fazer uma pequena revolução na política de integração de imigrantes em Portugal. A palavra-chave é multiculturalismo, interculturalidade. E parte deste princípio: devemos aceitar que pessoas doutras culturas, quando sentadas à nossa mesa,não sejam obrigadas a usar talheres. O responsável diz ainda que em Portugal, em todo o caso, não existem condições de exclusão social tão graves como as que geraram recentemente os motins em França. Por Ricardo Dias Felner (PÚBLICO) e Graça Franco (Rádio Renascença)

Rui Marques acredita que em Portugal se pode aplicar o modelo multicultural do Canadá. A ideia é respeitar a diversidade cultural de cada minoria, mas conseguir criar nestas comunidades um sentimento de pertença ao país que as acolhe.
PÚBLICO - Há sinais de que os últimos acontecimentos em Espanha e em França poderão provocar uma onda de xenofobia na Europa. Como vê este fenómeno?
Rui Marques - É evidente que existe uma onda de fechamento. A Europa está a viver um tempo triste em que se está a fechar numa concha, erguendo muros e barreiras à sua volta. A opinião pública espanhola era das poucas que se mantinham abertas, agora restamos praticamente só nós, os portugueses. Curiosamente, a mudança na opinião pública espanhola decorre não de medidas de um governo xenófobo e de direita, mas de políticas muito generosas e abertas de um governo socialista.
Está a falar do processo extraordinário que legalizou perto de 700 mil imigrantes clandestinos. Acha que esse processo teve um efeito de chamada que originou depois a pressão sobre as fronteiras de Melilla e Ceuta?
Exactamente. Mas os problemas em Melilla e Ceuta são anteriores. Sempre existiram, mas só agora se assumiu um drama devido a um efeito de chamada muito grande.
Acha que Espanha, por exemplo, chegou ao ponto máximo de admissão de imigrantes?
Não creio. A possibilidade de entrada de imigrantes depende de cada país e de cada contexto, bem como do desenvolvimento económico e do estado social de cada país. Se tivermos consciência que o Canadá tem 19 por cento de imigrantes e que a Suíça tem 20 por cento, vemos dois exemplos que têm mais do dobro da percentagem de imigrantes do que Espanha. E são países, nesta altura, com total paz social. Sobretudo o Canadá, que é para mim a referência, o farol em termos de políticas de imigração.
Porquê?
Porque o Canadá assumiu de uma forma muito clara o verdadeiro modelo multicultural, ou melhor, intercultural: no sentido de uma dupla pertença. Propõe a todos os imigrantes que rapidamente atinjam o estatuto de plena cidadania, fazendo parte integrante da nação canadiana e assumindo-se canadianos, e ao mesmo tempo aceita e estimula a diversidade cultural. Estamos a falar de um país onde entram 250 mil imigrantes por ano, num quadro de 30 milhões de habitantes.Mas no Canadá há cidades com quase 40 por cento de imigrantes.
O Canadá e a Europa não têm contextos históricos e geográficos diferentes? Podemos importar o modelo do Canadá para Portugal?
Temos a aprender com todos os países do mundo. E não tenho dúvida nenhuma que a Europa precisa de olhar para o modelo do Canadá. E precisa de voltar a ser a Europa, precisa de se encontrar com a sua origem e o seu fundamento. Aquilo que constituiu a Europa foi o seu princípio de solidariedade e de partilha de riqueza. A ideia em 1950, de Robert Schuman, era construir a paz a partir destas ideias e da existência de um núcleo de valores comuns e da aceitação da diversidade.
Mas esse modelo multicultural não foi já testado na Grã-Bretanha e na Holanda?
Há uma pequena grande diferença. É que aquilo que o Canadá cultiva como sentido de pertença à nação canadiana, nenhum país europeu, mesmo os multiculturais, o fizeram. É que o Canadá transforma todos os estrangeiros em canadianos de pleno direito. A Grã-Bretanha e a Holanda tentaram fazer isso, só que sem sucesso, porque são sociedades mais complexas...Não tentaram.
O que significam então os polícias em Londres de turbante?
Isso é um passo extraordinário, é um bom passo. Mas, a meu ver, não simboliza tudo na construção do sentido de pertença. O grande desafio que se coloca às sociedades que têm de gerir a mobilidade humana, e basicamente são todas, é de o conseguirem incutir o sentimento de pertença de todas as pessoas à comunidade onde no momento estão. Isto é difícil, porque temos normalmente um raciocínio cartesiano, muito típico da influência francesa, que é este: "Ou estás connosco, és como nós, e pertences à nossa comunidade, ou se és diferente não pertences à nossa comunidade".
Quando eu convido alguém para almoçar comigo não é normal que eu exija que todos comam com talheres?
Não é obrigatório. Eu acho possível sentar à mesma mesa pessoas com registos culturais, históricos e religiosos completamente diferentes.
Com pratos diferentes, instrumentos diferentes?
Exactamente. Em contexto global, é isso mesmo que temos que fazer. O grande perigo que corremos é querer que toda a humanidade se sente à nossa mesa comendo com os nossos talheres e com a nossa culinária.É, portanto, favorável a um modelo multiculturalista.
É esse modelo que vai aplicar no ACIME?
É, construir um Portugal intercultural. É verdadeiramente essa a nossa proposta.
Tem noção que vai começar praticamente do zero?
É uma proposta nova.
Vamos então a um caso concreto. Defende escolas só para algumas comunidades imigrantes, com currículos especiais?
Não, a interculturalidade não é isso. Isso são versões suaves de multiculturalismo, versões de segregação, de separação de diferentes comunidades. Mas parece que a escola portuguesa não interessa muito aos filhos dos imigrantes...É um preconceito.
O insucesso escolar nestas comunidades é um preconceito?
Mas o insucesso escolar não tem que ver com o interesse na escola portuguesa. Temos todos a ganhar com a aceitação da diversidade. De ver a realidade a partir do ponto de vista do outro.
Então defende o ensino igual para todos?
Não, é outra realidade que também não é aceitável. O meu modelo de escola é também a aplicação do princípio Uma mesa com lugar para todos [título de um livro que o entrevistado publicou recentemente sobre imigração]. Ter um programa pedagógico e curricular comum, mas se se conseguir introduzir nesse programa os conteúdos da diversidade, explicar que existem naquela escola meninas e meninos que vivem de uma forma diferente, tanto melhor.O desafio que se coloca às sociedades que têm de gerir a mobilidade humana, e basicamente são todas, é de o conseguirem incutir o sentimento de pertença de todas as pessoas à comunidade onde no momento estão. Isto é difícil, porque temos um raciocínio cartesiano, típico da influência francesa, que é este: "Ou estás connosco, és como nós, e pertences à nossa comunidade, ou se és diferente não pertences à nossa comunidade"

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