Friday, September 29, 2006

Para além das palavras

«Os pretos são comparação», uma metáfora desconcertante de Fanon que exprime a angústia de liberdade, as formas de protesto contra o estigma colonial. Fanon explica que através da «comparação» se conserva uma alteridade de ruptura, de luta pela dignidade humana. É exactamente isto que tento de perceber nos polémicos retratos (de confronto) que o artista plástico Abrão Vicente traça, a propósito da sua participação na bienal de cultura:

E lá vamos nós a caminho de Maputo […] Felizes porque é sempre uma honra representar Cabo Verde seja em que circunstância for. Ser cabo-verdiano foi aliás a única razão de altivez que ostentamos durante toda a Bienal. Os moçambicanos orgulhavam-se obviamente por serem anfitriões, os angolanos por terem cometido a proeza de levar trinta e seis “criadores” (entra na lista intérpretes em playback de músicas de Susana Lubrano e Bela), incluindo claro uma equipa de televisão e rádio, os de S. Tomé, contentes por serem descendentes de cabo-verdianos, os de Portugal altivos, distantes, arrogantes olhavam para nós lá do alto e declararam-se os donos da Lusofonia […] Guiné Bissau não se fez representar por motivos de força maior, ou seja, pobreza extrema, fome, corrupção, a conjuntura internacional pouco favorável […]Brasil, esse sim, foi decente, simplesmente “não vamos”, não há orçamento para essas actividades extraordinárias (revista A Semana, Setembro de 2006).

Há quem afirme que isto apenas reflecte os traumas de uma insularidade ressentida. Duvido…

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

"Gostei do homem. Olhe, promovi-o a branco" (Salazar)... poucas são as ideologias que estão para além das palavras. Basta procurá-las no meio dos sons de um silêncio motivado.

7:31 PM  

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