Natal desigual
O mundo é desigual. Não se pode esperar que seja diferente nesta época, apesar dos sonhos que se evocam. No dia em que o jornal notícias informa que o Tribunal Supremo anulou a sentença do Tribunal Judicial da Província de Nampula que condenou os Caminhos de Ferro de Moçambique-Norte a pagar mais de 50 biliões de meticais a 137 trabalhadores desvinculados no âmbito do programa de reestruturação económica da empresa, os trabalhadores de Maputo reuniram-se no lugar de sempre para fazer o ponto de situação. Entre réplicas do «a luta continua», a comissão de trabalhadores anunciou o acordo a que chegou com a administração dos CFM e o Ministério dos Transportes e Comunicação, que garante o pagamento de indemnizações aos trabalhadores admitidos a partir de 1989 e que entretanto foram despedidos. Este pagamento está, contudo, dependente de uma condição: cada trabalhador deve pagar 1 milhão de meticais ao assistente jurídico, 100 mil para a comissão e 25 mil para custear o aluguer de uma sala de aulas (que serviu de sede da comissão). Quanto ao polémico processo dos trabalhadores mais antigos, sujeitos a reforma antecipada, «os chefes não conseguiram responder às nossas questões», lamentaram. A sessão de esclarecimento foi participada. Braços no ar, comentários inflamados, dilemas existenciais, dúvidas insolúveis, discussões paralelas, palavras de ordem cruzadas… mas também frases (in)acabadas, expressões de desejos sem chão: «é pá, estamos mal pá, os meus filhos…não sei como vai ser…?». Não evito abandonar-me e viajar ao encontro dessa incerteza quase fatal. Multiplico-me em cada rosto. Intrometo-me em desventuras alheias. Quedo-me impotente. Não há milagres. Não é natal!
1 Comments:
Desejos de um Natal mais equitativo. Bjs
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