Thursday, November 24, 2005

Revitalização da indústria nacional: algumas ideias

Os posts a crise da indústria metalúrgica de Moçambique, nomeadamente sobre a Maquinag e IMA, suscitaram comentários de José Paulo, alertando que os «tempos de desesperança» afectam todo o sector industrial do país. Num dos comentários, avança com algumas ideias para a revitalização da indústria moçambicana. Tendo sido por ele autorizado para destacá-las no blog, aqui vão.
Penso que ainda há uma saída se por um lado, o Estado assumir as suas responsabilidades na elaboração e implementação de uma verdadeira política de desenvolvimento industrial e nacional, após o desvario das privatizações, assente em:
- estimulo à ligação escola-empresa (universidade-empresa, se preferirem);
- incentivos à criação de empresas por parte de jovens técnicos saídos das universidades e/ou escolas técnicas;
- incentivos à reorganização/reengenharia das empresas, bem como aos investimentos de inovação e desenvolvimento, em conjunto com um adequado sistema de financiamento bancário;
- alteração da legislação fiscal e aduaneira, favorecendo por um lado os empresários que invistam nas suas empresas em equipamentos de modernização e na criação e manutenção de postos de trabalho e por outro, penalizando em termos de pauta aduaneira os produtos manufacturados e aligeirando a importação de matérias-primas;
- fomento da exportação de produtos acabados e com valor acrescentado, particularmente da agro-indústria (não falemos das fábricas de descasque de cajú...);
- incentivo à instalação em Moçambique de grandes empresas ligadas à agro-indústria, garantindo a introdução de novas técnicas de cultivo e potenciando a ligação e a elevação da produtividade de pequenos e grandes produtores agrícolas, para o abastecimento local e a exportação de bens alimentares;
- forte incentivo e investimento na qualificação dos trabalhadores e dos quadros, por intermédio de programas de formação-acção (combinação de formação teórica em sala com a formação prática no posto de trabalho);
- outra questão importante seria a coordenação com o Ministério da Educação para o lançamento de programas visando os profissionais em situação de analfabetismo funcional.
Com o fluxo de fundos provenientes das mais diversas fontes, não é difícil montar e defender junto dos financiadores externos programas deste tipo.Em segundo lugar, uma saída poderá ser encontrada, se as associações empresariais (na indústria em particular, a AIMO e a CTA) se preocuparem, de facto, em defender uma estratégia de desenvolvimento industrial e de pressão junto dos ministérios económicos, propondo políticas e sistemas de incentivos, estimulando as empresas a modernizarem-se em tecnologia, em sistemas de gestão e eficiência organizacional e investindo, elas também, na formação profissional e na elevação da qualificação dos seus associados, principalmente em termos de gestão estratégica.
Por último, o papel a desempenhar pelas associações sindicais, ultrapassando a mera defesa dos postos de trabalho sem qualificação e da elevação das remunerações, assumindo a necessidade de sacrifícios para garantir a manutenção de postos de trabalho e de acumulação de capital para o investimento, mas também defendendo o direito à formação para a requalificação e o direito à informação. Isto poderia ser conseguido por intermédio de pactos (acordos) sociais com um plano estratégico de desenvolvimento das empresas, previamente acordado.Outras pessoas estarão certamente mais habilitadas para responder a esta questão, mas o que conheci e conheço da indústria moçambicana, sempre me levou a acreditar na capacidade dos trabalhadores moçambicanos, na sua vontade de aprender, desde que adequadamente enquadrados e mobilizados em torno de um projecto que vise a perenidade das empresas e o bem comum, com uma forte liderança e adequada comunicação. Conheci e conheço gente empreendedora, que assumiu a gestão e a propriedade de diversas empresas, as modernizou e transformou em exemplos de gestão, paz social e mesmo internacionalização, competindo com vantagem com empresas sul-africanas e de outras origens.Não me parece que tenha desaparecido a disponibilidade que vi nas pessoas em estudarem depois do horário de trabalho, a sua apetência para aprenderem novas técnicas como aconteceu com os operários que frequentaram os centros de formação, bem como o interesse em saberem da real situação técnica-económica-finaceira das empresas onde trabalhavam. Não me parece que todos os quadros forjados nestas décadas de independência tenham perdido a sua competência técnica, capacidade de análise e de abnegação.
Estou a recordar-me de tempos idos? Que seja! Foram experiências que ficaram e de que me orgulho e que serviram para provar que existem outros caminhos possíveis, se a isso estivermos dispostos.
Abraços.
PS: Penso que está a decorrer um forum no sentido da definição de uma política industrial, mas não tenho tido informações sobre o assunto. Há também um texto produzido pelo Dr. Castel-Branco sobre o desenvolvimento industrial mas não o tenho em meu poder.

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