Trocas
A experiência que hoje vivi fez-me pensar que acrescentaria pelo menos mais uma coisa aos deliciosos «vazios rituais» de Bruno Martins. Apanhei o chapa, destino Museu/Fomento. Tenho vindo a constatar que a crise nacional também aqui se reflecte. Estava vazio. Deliciava-me com o facto de ser o único passageiro. Não evitei um sentimento egoísta, vingava-me, numa única viagem, contra os longos anos de apertões, apalpões, empurrões, rasgões e de desespero por ar respirável. Chegado à uma das paragens mais importantes (com maior movimento), os poucos potenciais passageiros teimosamente escolhiam os chapas da concorrência, com música, distribuição de publicidade de supermercados e chamamentos mais sugestivos. O chapeiro fez contas à vida. Porque seria ele obrigado a cruzar a cidade com um único passageiro?! Este mundo não está para esses sacrfícios, não pode ser...! Vejo-o encostar-se sucessivamente a diferentes chapas que seguiam o mesmo destino. Percebo que regateia qualquer coisa e que, de algum modo, eu entrava no negócio. Ao fim da quarta tentativa, consumou-se: trocou-me por um lugar estratégico na paragem dos chapas. Fui obrigado a mudar de chapa. Antes de sair, ainda ouvi um pesaroso «desculpa lá, mais velho…». Cheguei mais cedo ao meu destino, mas inevitavelmente incomodado por ter sido objecto de troca...
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