O derradeiro fórum

Através desta página, fico a saber que o presidente da república criou um Fórum Nacional Anti-corrupção que terá uma função consultiva. Só pode ser verdade. Não se consegue perceber que tipo de consulta será feita, nem como funcionará ou o que dele se espera. Mas isso é certamente um problema de quem escreveu a notícia, e que até nos remete para uma fonte estranha. Mas aqui está a informação precisa, mais próxima do que pensava. Previsivelmente, todas as questões estarão salvaguardadas com segurança. Afinal procura-se promover uma discussão construtiva (franca e aberta, acrescenta-se) sobre a corrupção. Fabuloso! É a instituição que nos faltava para apurar o charme de Moçambique. A composição do Fórum, por si, desautoriza qualquer cepticismo: é transversal, estamos todos representados. E mais, havendo foruns provinciais, a participação é mais ampla e reafirma-se a unidade nacional. Um “dois em um” engenhoso, livre das desvirtualidades de certos anúncios publicitários. Melhor aritmética política não se encontra. Não há aqui lugar para devaneios nem para questionamentos inoportunos (como este), é tudo muito claro: «não complica você...!». Faltando-nos alguma (pouquíssima)participação política, temos o Fórum que nos preenche completamente. Mas por capricho endossamos a participação, como legitimamente se espera de nós. Tornamo-nos cidadãos. Que um procurador sénior tenha afirmado em público que uma das causas da inoperância da Procuradoria é a ausência de lei que incrime determinadas práticas (mesmo como estas aqui ou outras que abundam), era uma simples premonição do que seria o espírito do Fórum (onde é que ouvi isto?). Aceitamos a ordem natural das coisas. A posição do procurador é discutível, mas não o suficiente que justifique preocupações. Obedecemos tranquilamente o rumo da história, não mais nada para fazer. Por simples razões estéticas criamos o Fórum para que sigamos a passos largos para o futuro. Tudo flui, somos tão previsíveis...