Hoje, como ontem

Chego a Coimbra, para ver se avanço com a dita cuja. Um telefonema a confirmar saudades precoces. Do outro lado da linha, insiste-se em não degenerar: «papá, não te esqueças da camisola do Benfica». Abafo o desaire da Póvoa, não vale a pena… Faço outras chamadas, reponho os elos, agendo vidas. Resisto contra a fastidiosa lenga-lenga das coisas da casa e afins. Entro preguiçoso no Montana. Lá está o velho Pistolas, incrivelmente repetido nos gestos. Nada pergunta, presume-me (certo) também repetido nos gostos. Manda servir. Bebemos. Corremos tranquilamente o tempo que nos separa. Em dia de referendo, o aborto é tema obrigatório. Ainda encontro os ícones da campanha. Intrometo-me em casa alheia, arrepiado com um dos cartazes da rua. Pistolas atira-se apimentado contra a política nacional. Prefere maldizer do sistema. Em pouco tempo o debate envolve a sala, repartida entre o “sim” e o “não”. Entretanto, mais uma rodada. «Esta pago eu sem referendo», impõe-se Pistolas. Repetimo-nos com gosto. Sabe muito bem, vale a pena…