Dissonância nacional
O pulsar do país também se pode medir pela relação que estabelecemos com os símbolos. Tem sido inglória a insistência para que a entoação do hino nacional preencha os rituais mais banais do quotidiano. Nestas (e noutras) ocasiões muitos rostos fecham-se penosamente em reservas mentais convenientes. Nem o ridículo e pretensioso truque de colocar sobre as mesas a letra do hino disfarça a dissonância nacional e o desvanecer dos entusiasmos. O sintoma é claramente assustador. Não há comunidade imaginada (B. Anderson) que ganhe corpo em escombros de desencantos. «Milhões de braços» acolhem os despojos de presságios que se esfumam dolorosamente. «Uma só força…»?! Os versos já não fazem fé. Alguns ainda se esforçam...tentam recriar Pilatos, mas não há como dissipar as nódoas …
3 Comments:
Olá
Os símbolos são apenas um dos
elementos que pode convocar a imaginação nacional.Não acontece sempre,sobretudo, não acontece quando se sente uma quase trágica percepção de falência de um projecto nacional. Tenho receio desses momentos. Não porque ache muito importante o apelo dos símbolos mas porque as (re) imaginações que se seguem em alturas de euforia nacional deixam sempre marcas de dor naqueles que, por não caberem espaço na imaginação, são descartados ou mesmo demonizados.
Sei lá? só o que eu sinto...
na recepção que o Presidente deu em Lx à comunidade na diáspora, as folhinhas também foram distribuídas. Se, na altura, não estranhei e também não me admirei com a falta de 'espontaneidade' no cantar do hino, olhos sempre a fugirem para a folha, como que com medo de..., ao ler este post fiquei surpreendido.
Terá a ver com a mudança de hino (e bandeira, já agora), em tão pouco tempo? não houve tempo para 'sedimentar'?
Gostava de acreditar que fosse uma questão de tempo. Receio que a «eu» tenha razão no que diz sobre a crise do projecto nacional. Agarramo-nos a outros símbolos...
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