Mata-bicho solidário
À beira da estrada, doze mulheres compõem o mata-bicho dos operários da zona portuária. Asseguram que a concorrência não asfixie ninguém, cada uma especializa-se na venda de um produto que engorda o cardápio: sopa, pão, badjia, chá, salada, refrigerantes e outros. A sopa é sempre de feijão, uma exigência dos homens que têm que aguentar o dia e o peso de mercadorias alheias. A clientela é abundante, os preços são aliciantes. A palavra é uma garantia bastante quem precise de crédito. Os cheiros convidam-me a parar. Deliro com as sandes de badjia, minha predilecção. A primeira que compro vem embrulhada numa folha arrancada de um relatório. Curioso, leio o título: Gender and participation in emergency food aid. «Ironia da vida...vingança dos subalternos…?», inicio um raciocínio mecânico (viciado) que abandono imediatamente. O momento é outro, delicio-me com fartura. Trocamos conversas sobre os prazeres e tormentos da vida. Entre outras coisas, fico a saber que por ali (como noutros lugares) não faltaram experiências de aflição perante as insensibilidades da polícia camarária, bastantes para que as mulheres montassem uma estratégia segura de sobrevivência. Ao sinal de alarme, tudo desaparece num instante (até as panelas e chaleiras em fervura). A rede é sólida. O espaço está apropriado e paradoxalmente torna-se mais público. Maputos de Maputo e muito mais…!
4 Comments:
Olha rapaz,
Espero que nunca percas essa tua mania de trocar olhares com a vida. Será que é assim que se "revoluciona o dia a dia"?
Um abraço
Brada,
És um exemplo eloquente de que o Direito não se afirma, se não for completado pela sensibilidade sociológica... Um abraço.
adorei a descricao e a ironia do jornal que servia de embrulho.
Olá Paula, está prometido! Olha, melhor que eu, as mulheres que retrato saberão o sentido que dão ao que fazem. No entanto, confesso que vou sonhando...não sei se é legítimo...
Hujambo, exageros que não te são habituais...Obrigado.
Bjs Clarisse, Obrigado.
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