Wednesday, July 02, 2008

Sushi ou matapa?

Gustavo Mavie escreve-nos do Japão, fascinado com o que lhe parece ser a essência nipónica: trabalho. Entre os japoneses o trabalho é tão “eles” que mesmo as crianças, ao contrário das nossas que desde cedo lhe são adversas, nos intervalos não saem das salas de aula a saltar de alegria para o recreio. Brincar no Japão?! Adivinho-lhe o ar pasmado e, quem sabe, o desgosto de não poder transformar matapa em sushi. Aliás, ao que parece essa obsessão vem de longe. Diz no artigo que (há 15 anos!) escreveu que se transferíssemos todos os japoneses para Moçambique, o nosso país desenvolver-se-ia à velocidade da luz. Espantoso! Na verdade a tese é a seguinte: “regra geral somos um povo pouco dado ao estudo e muito menos ao trabalho árduo e […] pautamos mais pela lei do esforço mínimo” (Jornal O País, 27.06.08, pag. 9).
Algo que começa a ser recorrente entre nós e que faz lembrar outros tempos, afinal de contas persistentes:
“O indígena africano, vivendo do que a terra fertilíssima lhe fornece espontaneamente como retribuição de um trabalho ligeiro que, em regra geral, ele não executa porque obriga as suas mulheres a fazê-lo, não tendo necessidades de vestuários ou quaisquer outras ou quaisquer outras próprias do homem branco, só se entrega, por sua iniciativa, à caça ou à guerra, é-lhe antipático e odioso qualquer trabalho regular” (Preambulo do Regulamento do Trabalho Indígena nas Colónias Portuguesas, 1914).
Só nos faltará reclamar a recriação de uma espécie de curadoria dos indígenas, seguramente revestida de intenções políticas decorosas e orgulhosa dos novos tempos...