Friday, March 31, 2006

Corrente: «4»

Carlos Gil passou-me esta corrente que começou aqui (ou terá sido neste lugar?).

4 empregos que tive (assim se explica muita coisa...)
Monitor de natação
Carregador de fruta
Servente na construção civil
Investigador (não sei se é bem isto…)

4 sítios onde vivi
Maputo (onde vivo)
Vila Real
Coimbra
Lisboa

4 filmes que posso ver vezes sem conta (muito difícil…)
A vida é bela
O Ladrão de bicicletas
Uma vida difícil
Madame butterfly

4 pratos favoritos (para quem é bom garfo e come tudo...complicada)
Matapa
Arroz de feijão com…
Catchupa
Peixe-papagaio (panado) ou bife de marlin com coco

4 séries que nunca perco
Por cá é mais complicado…não tenho visto.

4 websites
Perco-me maningue…muito indisciplinado, não sei.

4 sítios onde gostava de estar agora
Papua-Nova Guiné
Angoche (Pangane também seria muito bom)
Salamansa
Quebra costas

4 vítimas (com o risco de estar a pôr em causa certas linhas editoriais)
JPT do Maschamba
Julinho do yesterday man
Sara do 110 lugares
Ivan Serra do barrakaloka

Thursday, March 30, 2006

Dilemas

Destino da ajuda internacional, para o desespero da indústria têxtil e do calçado.

Wednesday, March 29, 2006

Combates

Ao escrever sobre as transformações no mundo do trabalho em França, António Cabrita retrata uma realidade presente em quase todo o mundo e que se anuncia para Moçambique. Rumamos (passivamente?) para uma sociedade de trabalho descartável. Mas ficou-me sobretudo uma mensagem de rebeldia e esperança:

«Antes do “Fim da História”, havia a almofada ideológica, havia um inimigo. Vivia-se num regime de imaginário a preto e branco, balizado pela ideia de um inimigo localizado. Era redutor – mas era uma realidade através da qual se agia e era agido. Hoje o inimigo atomizou-se e a sensação é que só se é agido, não é possível agir. É contra esta impotência que os jovens se manifestam, na ânsia de lhes ser devolvida uma ideia de futuro»
(Jornal meia noite, 28 de Março de 2006, p. 9)

Capital madgermane

Os madgermane estão divididos, desde que o governo anunciou o pagamento de 48 milhões de dólares. Ainda com outras contas por fazer, o governo amortizou uma parte da dívida transferindo para os madgermane 20% das acções da Sociedade de Crédito de Moçambique (Socremo). Os outros accionistas da Socremo (entre os quais um banco alemão) protestaram contra esta medida, pretensamente porque aos madgermane faltaria competência empresarial, como se não existissem possibilidades de representação de interesses e de protecção do património (ainda que se adivinhassem algumas dificuldades práticas…). Os líderes dos madgermane venderam aquelas participações sociais, supostamente sem mandato para efeito. Não sei até que ponto as pressões políticas e económicas a que os madgermane têm estado sujeitos causaram ruído no movimento. A verdade é que com a liderança contestada (destituída?) e o grupo fragmentado, parece estar comprometida a luta. Esperemos que a crise passe. Se este caso (singular na história de Moçambique) é um ensinamento de resistência e coragem, também pode ser um exemplo de como se podem explorar as fragilidades dos movimentos se, entre mais coisas, estes não tiverem uma estratégia firme de consolidação da democracia interna.

Monday, March 27, 2006

À beira do mundo


Esta imagem podia ser de qualquer parte do interior do país, por onde não passam os corredores do desenvolvimento (que seguem certas lógicas, imposições de grandes planos). O país é também feito de outras vidas, a que nos habituámos a chamar «micro». A sorte de milhares de pessoas também depende desta diferença de dimensões e de escalas com que se encara o mundo. Os que são vistos em ponto pequeno enfrentam a fatalidade de adiar permanentemente o futuro. No entanto, é-lhes exigido saber esperar (simplesmente!). Pode ser que aguardem algo, com a mesma incerteza com que anseiam o próximo chapa para levar aqueles produtos aos mercados da cidade. Não sei se esperam algo mais que trilhar os seus próprios caminhos e não morrer à beira do mundo...

Saturday, March 25, 2006

Sucedâneos

- Fofo, levas-me ao coconaites?
- ...?! Prefiro ficar aqui...
- Então paga-me lá um hamburguer...
Tudo o que deseja é sonhar um mundo com caracóis redondos…

Thursday, March 23, 2006

m-celândia

Bazarketing floresce, até com premiação internacional inquestionável (e ainda bem para os seus promotores e para Moçambique). Mas a «arte de criar intimidade» pode ser invasora se, como se propõe, se empenhar em empenhar em pintar a tela dos cérebros virgens de marcas, alegadamente com baixas taxas de ocupação (T. Fonseca). Desconfio deste diagnóstico ao cérebro, embora reconheça que determinadas formatações surtam efeito (eventualmente semelhantes aos alcançados noutros contextos). Tomo de exemplo os anúncios da m-cel. Nalguns casos proporcionam apropriações populares criativas. Mas a omnipresença avassaladora desses anúncios não evita um certo fetichismo na forma como nos relacionamos com a marca. Assalta-me particularmente uma urticária nervosa cada vez que, ao se ditar um número de telefone, se começa por enfatizar o lapidar prefixo: «m-cel...»! E a pompa com que se enuncia...! Talvez não seja substancialmente diferente dizer-se «82...». Mas não controlo...! Esquisito…

Wednesday, March 22, 2006

Volta a tremer: 5.0

Imaginários

«Era uma vez um urso que passeava de chapa…»
(Dingane, 21.03.06)

Além do corpo

Certas experiências, ainda que bastante singulares, podem ser um ensinamento importante para a quebra de uma atmosfera de incerteza certa que reina à volta dos corpos colonizados (Fanon) e um contributo para intensificação da rebeldia contra a prepotência: «Não és homem para me comer de borla!» - conquistou o que lhe era devido e vestiu-se (depois de uma luta difícil).

Monday, March 20, 2006

Espelho colonial

«Nesta casa, onde há patroas rivais, os criados fazem a sua labuta de ombros curvados numa tentativa de se esquivarem aos excessos de mau humor. Enfadados com a labuta, aquelas zangas são, por vezes, uma benesse, embora também saibam que, para eles, será melhor que reine uma certa harmonia. Ainda não chegou o dia em que os gigantes se guerrearão deixando que os anões desapareçam na noite. Perante sentimentos contraditórios que, não os avassalando por vagas sucessivas, mas sim como uma miscelânea confusa de raiva, desapontamento, ressentimento e júbilo, sentem-se aturdidos e dá-lhes vontade de dormir. Querem estar na casa grande, mas também lhes apetece ficar em casa, a mandriar e dormitar num banco, à sombra. As chávenas escorregam-lhes das mãos e partem-se no chão. Ciciam, nervosamente, pelos cantos. Ralham aos filhos sem motivo. Têm pesadelos. É esta a mentalidade dos criados.»
[J.M. Coetzee, No coração desta terra, Lisboa, Dom Quixote, (17-18)]

Sunday, March 19, 2006

Pecado mortal: a preguiça

Desistir de fazer um mundo melhor para descansar ao sétimo dia.

Saturday, March 18, 2006

Traduções (nestes comentários).

Friday, March 17, 2006

Dissonância nacional

O pulsar do país também se pode medir pela relação que estabelecemos com os símbolos. Tem sido inglória a insistência para que a entoação do hino nacional preencha os rituais mais banais do quotidiano. Nestas (e noutras) ocasiões muitos rostos fecham-se penosamente em reservas mentais convenientes. Nem o ridículo e pretensioso truque de colocar sobre as mesas a letra do hino disfarça a dissonância nacional e o desvanecer dos entusiasmos. O sintoma é claramente assustador. Não há comunidade imaginada (B. Anderson) que ganhe corpo em escombros de desencantos. «Milhões de braços» acolhem os despojos de presságios que se esfumam dolorosamente. «Uma só força…»?! Os versos já não fazem fé. Alguns ainda se esforçam...tentam recriar Pilatos, mas não há como dissipar as nódoas …

Thursday, March 16, 2006

(O vazio)

Há vazios que nos preenchem a saudade de ter de volta quem nunca partiu. Bom regresso.

Wednesday, March 15, 2006

Moçambique volta a tremer

Novo sismo: 5.3

Wednesday, March 08, 2006

Parado por uns dias. Até breve (espero).

Tuesday, March 07, 2006

A Lista

Recebi em casa, por engano (só pode ser!), uma lista de produtos a serem comprados para lobolo. Transcrevo:

Pai: sapatos, camisa e gravata;
Mãe: fato, sapato, capulana, mucume, vemba, capulana para neneca, tira branca (nkenka);
Avós (2): capulana, blusa e lenço;
Avôs (2): camisa;
Tias: capulana, lenço;
Tios (2): camisa;
Noiva: anel, relógio, brinco, colar, roupa, sapato, carteira e mascote.

Pergunta proibida

«Como vai a tese?»

Saturday, March 04, 2006

Outras noites

Cruza a estrada. Passo tropeçado, sem pressa, entra na barraca seguinte. Um pacote de vinho debaixo do braço. Bebe como pode, até que sobre um copo. Uma frase solta chama-o à discussão. Argumenta, participa em controvérsias cruzadas. Arrasta as atenções para a política. A roda alarga-se. Os diagnósticos são consensuais, com variantes na intensidade do maldizer. Os políticos são enviados para lugares indecorosos. As intervenções e encenações geniais exigem mais algumas rodadas -«agora é que falaste!». Depois do êxtase, a barraca vai se esvaziando. À saída, ainda escapam algumas sentenças desfalecidas. Embrulha-se em argumentos mudos até adormecer. À hora de fechar, como sempre, pedirá para ficar porque lá fora o mundo é estranho…

Capulanas no xipamanine

Simbologias que desconheço, mas com uma poesia que me toca. Não me invade a angústia de decifrar as cosmologias em jogo. Perco-me, deslumbrado, no mundo de cores e formas com vida. Pela mão do lojista, entro na intimidade dos tecidos. Aprendo a seguir-lhes os rastos. Insinuam-se. Em cada capulana, descortino sorrisos gratos, danças ensaiadas, amores vingados, desfiles voluptuosos, feitiços cheirados, mas também lágrimas de (des)consolo. Compro várias. Todas precipitam-se a seguir o seu destino. Volto sempre ao Xipamanine...

Wednesday, March 01, 2006

Contingências

É dramático pensar que as nossas vidas fazem, cada vez mais, justiça ao mito da Espada de Dâmocles.
(Para JT)

Dedicatória

Um afago amigo, alento de trajectos que se vão cumprindo: «caro André, espero que nunca te esqueças que a força maior duma revolução é o amor!»
Bertina Lopes, Mama B (Roma, 22/11/99)
(a propósito do primeiro comentário ao post anterior)